Software Livre na Administração Pública
O Software Livre, pela sua natureza, apresenta inúmeras vantagens
sociais, legais, políticas e económicas sobre as alternativas
proprietárias para o seu uso alargado na Administração Pública.
Software Livre é uma designação que se aplica ao conjunto de
programas e sistemas operativos que dão a cada utilizador 4 liberdades:
- Liberdade 0 - A liberdade de executar o software, para qualquer uso.
- Liberdade 1 - A liberdade de estudar o funcionamento de um programa e de adaptá-lo às suas necessidades.
- Liberdade 2 - A liberdade de redistribuir cópias.
- Liberdade 3 - A liberdade de melhorarem o programa e de tornar as vossas modificações públicas de modo que a comunidade inteira beneficie da melhoria.
Software não-livre ou proprietário é todo aquele que não dá aos
seus utilizadores estas 4 liberdades. Estas liberdades não representam
qualquer obrigatoriedade, nem de uso, nem de distribuição do software em
causa para o seu utilizador.
Estas 4 liberdades têm impactos diversos ao nível legal, político, social e económico.
Legal
Existem 3 problemas com que a Administração Pública tem de resolver,
do ponto de vista legal, no que toca ao seu parque informática: cópia
ilegal de software (vulgo "pirataria informática"), protecção de dados
pessoais dos cidadãos e segurança informática.
A cópia ilegal de software pode ser resolvida, pelo menos
parcialmente, pela utilização de Software Livre, uma vez que este pode
ser copiado livremente (Liberdade 2). Assim resolvem-se as situações
ilegais existentes hoje, o Estado dá o exemplo de legalidade que lhe
compete e poupa dinheiro e a burocracia necessária para vigiar a
utilização de todos os sistemas na Administração Pública.
Em relação à protecção de dados pessoais a situação actual é crítica.
Existem sistemas, como os que gerem os passaportes e as cartas de
condução, que mantêm dados que chegam ao ponto de incluir imagens das
nossas assinaturas. Estes sistemas são implementados em tecnologia de
software proprietário que não se sabe como funciona, nem se pode
legalmente saber. Desta forma é impossível definir quem realmente tem
acesso aos dados pessoais que a Administração Pública detem.
Acrescente-se o facto de as últimas licenças de software de fornecedores
como a Microsoft incluirem claúsulas que autorizam o acesso aos
sistemas por parte do fornecedor ou agentes indicados pelo fornecedor, e
temos os sistemas estatais num perfeito desrespeito pela legislação
vigente de protecção de dados pessoais.
A segurança informática, tal como a segurança física, não existe em
termos absolutos. Os únicos sistemas realmente seguros são aqueles que
incluem os processos de vigilância e reacção a ataques que permitem
evitar e prever ataques, reduzir vulnerabilidades e manter o sistema em
funcionamento. No caso do software proprietário o processo de reduzir
vulnerabilidades depende do fornecedor, ou seja, quaisquer correcções ao
software são feitas quando, como e se o fornecedor assim o decidir. Com
o Software Livre, a Liberdade 1 garante que a capacidade de fazer essas
modificações depende, no pior dos casos, apenas dos recursos técnicos
ao dispor do utilizador final, permitindo uma melhoria constante do
nível de segurança dos sistemas.
Político
A nível político a vantagem do Software Livre é a independência de
qualquer fornecedor de software. Numa altura em que há fornecedores a
tentarem impedir a venda de empresas a outras por a empresa a ser
vendida usar o seu software (Microsoft vs K-Mart), a capacidade de tomar
decisões na Administrção Pública, como reorganizações de instituições,
pode ser limitada por um único fornecedor de software de que dependam
alguns dos sistemas existentes. Por isso é necessário garantir a
independência da Administração Pública. Também aqui o Software Livre
apresenta-se como uma alternativa viável: a Liberdade 0 e a Liberdade 1
garantem a independência necessária à gestão política da Administração
Pública.
Social
Desde pequenos que tentamos ensinar os mais novos o valor da
partilha, começando pelos seus brinquedos. Este valor de solidariedade
está tão embrenhado na sociedade portuguesa que está presente no artigo
1º da nossa constituição. No entanto, de alguma forma, racionalizámos as
restrições que o software proprietário nos impõe. Saber que uma pessoa
precisa de um determinado software, seja para um trabalho académico ou
mesmo no seu dia a dia tem posto muitas pessoas perante o dilema de
fazer uma cópia ilegal do software e ajudar o seu amigo(a) ou recusar a
ajuda. Os actuais números de cópias ilegais de software em Portugal
demonstram bem qual é a escolha normal neste dilema. Deste ponto de
vista o Software Livre, através da Liberdade 2, garante a resolução
deste dilema uma vez que a cópia de Software Livre é legal. Tendo em
conta que uma das origens de cópias de software ilegal é o local de
trabalho, a adopção de Software Livre pela Administração Pública levaria
a uma utilização cada vez maior deste tipo de software pela legislação
em geral.
Outra vantagem no plano social é a evolução científica e tecnológica.
A possibilidade de estudar o Software Livre, sem restrições como não
trabalhar na área nos próximos 10 anos, permitem a uma pessoa aprender
sem estar limitados pelo que o seu fornecedor lhes decide dizer, uma vez
que tem acesso a toda a parte funcional do sistema. Por outro lado,
aqueles que querem aplicar tecnologia de ponta, têm para os apoiar um
conjunto de ferramentas e programas que poderão usar sem se preocuparem
com claúsulas abusivas, falta de suporte e contratos de licenciamento
mutáveis, que lhes permitirão implementar mais depressa este tipo de
tecnologia.
Económico
A nível económico o Software Livre tem um impacto interno, no que
concerne estritamente à Administração Pública, e externo, no que
concerne à sociedade em geral. A nível interno as razões para a redução
de custos são: aumento da competição nos serviços de suporte e
manutenção de sistemas de informação e eliminação de custos de licenças
na replicação de soluções.
O aumento da competição nos serviços de suporte é possível, uma vez
que a Liberdade 1 garante a qualquer empresa que se encontre no mercado
pode aprender o suficiente sobre um sistema de Software Livre para
oferecer os seus serviços de suporte, deixando assim a administração
pública de estar limitada a recorrer ao fornecedor do seu software para
fazer o suporte e a manutenção.
Por outro lado, a Liberdade 2 garante a possibilidade de reutilizar o
mesmo software independentemente do número de computadores em que possa
ser usados. Desta forma é possível reduzir os custos não só dentro de
uma instituição, como ao duplicar soluções para outras instituições
dentro e fora da Administração Pública.
A nível externo, o fomento da utilização de Software Livre permitirá
passar estas vantagens para o tecido empresarial e associativo
português, obtendo-se assim uma redução de custos que ajudará as
melhores empresas a evoluirem e o desenvolvimento de uma indústria
nacional de Software Livre capaz de competir a nível mundial.
Fonte: Ansol
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