Comunidade científica critica a fusão entre MiniCom e MCTI
Documento classifica medida como "artificial,que prejudicaria o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação do país”
Em resposta aos planos do presidente interino, Michel Temer,
amplamente divulgados pela imprensa nacional, de fundir o Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com o das Comunicações, 13
entidades brasileiras, ligadas à área de ciências, enviaram manifesto
conjunto a Temer intitulado “O MCTI é o motor do desenvolvimento
nacional”. O documento diz que a fusão “é uma medida artificial,que
prejudicaria o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação do
país”, além do que pode comprometer as políticas públicas do setor.
O texto, assinado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entre outras,
destaca que “é grande a diferença de procedimentos, objetivos e missões
desses dois ministérios”. As entidades argumentam que enquanto a agenda
do MCTI “é baseada em critérios de mérito científico e tecnológico, com
programas desenvolvidos e avaliados por comissões técnicas”, os
procedimentos do Ministério das Comunicações envolvem “relações
políticas e práticas de gestão distantes da vida cotidiana do MCTI”.
O documento diz também que as missões dos dois ministérios não são
compatíveis, e que, enquanto as atividades de área das comunicações
inclui concessões e fiscalização, as atividades do MCTI envolvem fomento
a pesquisas, envolvimento de pesquisadores em redes multidisciplinares e
interinstitucionais, estímulo a inovação tecnológica em empresas, além
de ser responsável por duas dezenas de institutos de pesquisa.
“A junção dessas atividades díspares em um único ministério
enfraqueceria o setor de ciência, tecnologia e inovação que, em outros
países, ganha importância em uma economia mundial crescentemente baseada
no conhecimento e é considerado o motor do desenvolvimento. Europa,
Estados Unidos, China, Coréia do Sul são alguns exemplos de países que,
em época de crise, aumentam os investimentos em P&D [pesquisa e
desenvolvimento], pois consideram que essa é a melhor maneira de
construir uma saída sustentável da crise”, justifica.
O texto atribui ao MCTI o fato de o Brasil haver ganhado mais
destaque no cenário científico mundial. “Se há duas décadas o Brasil
ocupava a 21ª posição no ranking mundial da produção científica, hoje já
se encontra no 13ª lugar. Hoje, todos os estados da Federação contam
com secretaria de ciência e tecnologia e respectiva fundação de amparo à
pesquisa”, destaca. A comunidade científica também argumenta que foi o
MCTI que viabilizou novas leis que beneficiaram o setor, como a Lei de
Inovação (2004), Lei do Bem (2005), Lei de Acesso à Biodiversidade
(2015) e o novo Marco Legal da C,T&I (2016).
Além de não ser feita a fusão, o documento pede que o MCTI seja
reforçado, com financiamento adequado e liderança que olhe para o
futuro.
O documento foi assinado pela ABC, Academia de Ciências do Estado de
São Paulo, Academia Nacional de Medicina, Associação Brasileira de
Universidade Estaduais e Municipais, Associação Nacional de Entidades
Promotoras de Empreendimentos Inovadores, Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, Associação
Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras, Conselho
de Reitores das Universidades Brasileiras, Conselho Nacional das
Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, Conselho Nacional de
Secretários Estaduais para Assuntos de C,T&I, Fórum de Pró-Reitores
de Pesquisa e Pós-Graduação, Fórum Nacional de Gestores de Inovação e
Transferência de Tecnologia e a SBPC.
Mudanças no MCTI
A assessoria de Comunicação do Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação disse que o ministério não vai se posicionar sobre a fusão ou
troca de ministro enquanto as mudanças no governo federal não forem
concretizadas e oficializadas. De acordo com a assessoria, a atual
ministra, Emilia Curi, ainda não recebeu nenhum comunicado relativo ao
seu afastamento.
Fundador do Partido Social Democrático (PSD), Gilberto Kassab, que
foi ministro das Cidades no governo de Dilma Rousseff e era considerado
aliado da presidenta, vai assumir a nova pasta formada por Ciência,
Tecnologia, Inovação e Comunicações. O termo de posse foi assinado hoje
(12) em cerimônia no Palácio do Planalto, pelo presidente interino,
Michel Temer.
O MCTI lançou hoje (12) a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e
Inovação 2016-2019 (ENCTI), documento construído em parceria com a
comunidade científica e o setor produtivo que aponta as ações mais
importantes para o setor científico no período de 2016 a 2019.
Aestratégia coloca a existência de um Sistema Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação “robusto e articulado” como condição básica para
que o Brasil possa avançar no desenvolvimento científico e tecnológico e
elevar a competitividade no mercado internacional.
A ENCTI também trouxe um levantamento da infraestrutura de pesquisa
do país. Um estudo encomendado ao Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada identificou 196 laboratórios distribuídos em 25 unidades de
pesquisa, que receberam R$ 107 milhões na recuperação e expansão das
suas estruturas entre 2004 e 2010.
Fonte: Agência Brasil
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